Sunday, July 27, 2014

MACHU-PICHU


MACHU -PICCHU PERU
A avidez dos espanhóis pelo ouro e outros tesouros encobriu seu espanto ao encontrar no Peru, numa
terra desconhecida no fim do mundo, uma civilização avançada, com cidades e estradas, palácios e
templos, pirâmides, reis e sacerdotes… e religiões. A primeira leva de padres católicos que veio com
os conquistadores procurou destruir tudo o que se relacionasse à “idolatria” dos índios.
Porém, os sacerdotes espanhóis que vieram depois — na época os (únicos) estudiosos do país —
mostraram-se abertos às explicações dos ritos e crenças locais dadas pelos nobres nativos, que
haviam se convertido ao catolicismo de Roma …
… Sua curiosidade aumentou quando compreenderam que os nativos dos Andes acreditavam num
Criador Supremo e que suas lendas registravam um Dilúvio. Como muitos detalhes dessas lendas
eram estranhamente parecidos com as narrativas bíblicas do Gênesis, foi inevitável, entre as primeiras
teorias sobre a origem dos “índios” e suas crenças, uma associação com as terras e os povos da
Bíblia. Depois de considerar vários povos antigos, a conclusão mais plausível para os primitivos
teóricos, como ocorrera no México, era de que os nativos descendiam das Dez Tribos Perdidas de
Israel, não só pela semelhança das lendas nativas com as histórias bíblicas, como também por alguns
rituais.
Os nativos peruanos tinham costumes como o oferecimento dos primeiros frutos — uma Festa da
Expiação, que correspondia à natureza e à época do dia judeu da Expiação — o rito da circuncisão, a
retirada do sangue do animal que serviria de alimento, a proibição de comer peixes sem escamas,
muito parecidos com os costumes dos hebreus. Na Festa das Primeiras Frutas, os nativos cantavam
as palavras místicasYo Meshica, He Meshica, VaMeshica. Para alguns dos teóricos espanhóis a
palavraMeshica significava o mesmo que o termo hebreu “Mashi’ach” — o Messias.
(Estudiosos modernos agora acreditam que o componente Ira nos nomes divinos andinos, é
comparável ao nome mesopotâmico Ira/Illa, do qual deriva a raiz bíblica El;que o nome Malquis com o
qual os incas veneravam seu ídolo é equivalente ao da divindade cananita, Molekh (Senhor); e que é
provável que o título inca Manco deriva da mesma raiz semítica, significando “rei”.)
Foi em vista dessas teorias sobre as origens bíblicas dos hebreus que os padres católicos do Peru,
depois da onda inicial de obliteração/começaram a registrar e preservar a herança nativa. Os mestiços,
tais como o padre Blas Valera (filho de um espanhol e uma mulher indígena), foram encorajados a
anotar o que ouviam dos nativos e o que estes faziam. Antes que terminasse o século XVI, um esforço
concentrado, patrocinado pelo bispo de Quito (Equador), foi feito no sentido de compilar as histórias
locais, avaliar os locais antigos e montar uma biblioteca com todos os manuscritos relevantes. Muito do
que foi aprendido sobre os tempos antigos da América do Sul desde então veio dessa fonte.
Intrigado com as teorias e avaliando ele mesmo os manuscritos da coleção, um espanhol chamado
Fernando Montesinos chegou ao Peru em 1628 e devotou o resto de sua vida à compilação de fatos
compreensíveis, em ordem cronológica, da história e pré-história dos peruanos. Cerca de vinte anos
mais tarde ele completou um tratado,Memórias Historiales Antiguas del Peru (“Memórias Históricas
Antigas do Peru”), e o depositou na biblioteca do convento de San José de Sevilha. Lá permaneceu
esquecido por dois séculos, sem ter sido publicado, quando alguns trechos foram incluídos numa
história francesa das Américas. O texto completo em espanhol veio à luz apenas em 1882 (uma
tradução de P. A. Means para o inglês foi publicada pela Hakluyt Society em Londres, Inglaterra, em
1920).
Partindo de um ponto comum entre as narrativas da Bíblia e as andinas, como o episódio do Dilúvio,
Montesinos considerou este o seu ponto de partida. Seguindo o registro bíblico, ele seguiu o
repovoamento da Terra depois do Dilúvio, a partir do monte Ararat, na Armênia, até uma tabela de
nações no capítulo 10 do livro do Gênesis. Viu no nome Peru, (ou Piru/Pirua na língua dos nativos)
uma interpretação fonética do nome bíblico Ophir, o neto de Eber (o portador dos hebreus), ele próprio
filho de Shem. Ophir também era o nome da famosa Terra do Ouro, de onde os fenícios trouxeram
ouro para o templo de Jerusalém, que o rei Salomão estava construindo. O nome de Ophir na tabela
da Bíblia está escrito ao lado de seu irmão Havilah — um nome pelo qual foi chamada a famosa Terra
do Ouro na história bíblica dos quatro rios do Paraíso:
“E o nome de um era Pishon; É o rio que acompanha toda a terra de Havilah,
onde o ouro está ” …
Para Montesinos, as pessoas das terras da Bíblia teriam vindo para os Andes muito antes da época do
reinado de Judá e Israel, muito antes das Dez Tribos serem exiladas pelos assírios. Portanto, concluiu
Montesinos, fora o próprio Ophir quem liderara os primeiros colonos ao Peru, quando o homem
começou a espalhar-se pela Terra depois do Dilúvio.
As histórias incas que este padre reuniu atestam que muito antes da última dinastia inca já existira um
império antigo. Depois de um período de crescimento e prosperidade, a terra enchera-se de desastres:
cometas apareceram nos céus, o solo estremeceu com os terremotos e irromperam guerras. O rei que
governava na época saíra de Cuzco, levando seus súditos para um refúgio seguro nas montanhas,
chamado Tampu-Tocco. Apenas alguns sacerdotes permaneceram em Cuzco, para cuidar do
santuário. Foi durante essa época calamitosa que se perdeu a arte da escrita.
Os séculos passaram. Os reis iam periodicamente de Tampo-Tocco até Cuzco consultar o oráculo
divino. Um dia, uma mulher da classe nobre anunciou que seu filho Rocca fora carregado pelo Deus
Sol. Dias mais tarde o jovem reapareceu, trajando roupas douradas. Ele disse que a época do perdão
chegara, mas o povo precisava obedecer certos mandamentos: a sucessão real iria para o filho do rei
nascido de uma meio-irmã, mesmo que não fosse o primogênito, e escrever não seria mais permitido
(Ah !! os “deuses“…). As pessoas concordaram e voltaram a Cuzco com Rocca como novo rei. Ele
recebeu o título inca — de soberano.
Concedendo ao primeiro inca o nome Manco Capac, os historiadores igualaram-no ao legendário
fundador de Cuzco, Manco Capac dos quatro irmãos Ayar. Montesinos corretamente separou e
distanciou as dinastias incas, contemporâneas dos espanhóis (cujo reinado começara apenas no
século XI d.C.), de seus antecessores. Sua conclusão, de que a dinastia inca consistira de 14 reis,
incluindo Huayna Capac, que morreu quando os espanhóis chegaram, e seus dois filhos rivais, foi
confirmada por todos os estudiosos.
Ele concluiu que, de fato, Cuzco fora abandonada em período anterior ao do retorno da dinastia inca à
cidade. Segundo seus estudos, antes do retorno a Cuzco, o império inca tivera 28 reis, cujo governo
fora exercido na montanha chamada Tampu-Tocco. E antes disso um antigo império governara em
Cuzco, considerada a capital. Lá, 62 reis sentaram-se no trono; destes, 46 eram reis-sacerdotes e 16
eram governantes semidivinos, filhos do Deus Sol. Antes disso, os próprios deuses reinavam sobre a
Terra.
Acredita-se que Montesinos encontrou uma cópia do manuscrito de Blas Valera em La Paz e os
jesuítas permitiram que o copiasse. Ele também se apoiou nos escritos do padre Miguel Cabello de
Balboa, cuja versão diz que o primeiro soberano, Manco Capac, viera a Cuzco não diretamente do
lago Titicaca, mas de um lugar oculto, chamado “Tampo-Tocco” (“Refúgio das Três Janelas”). Foi lá
que Manco Capac “abusou de sua irmã Mama Ocllo” e teve um filho com ela.
Montesinos, após confirmar tudo isso em outras fontes disponíveis, aceitou essa informação como
verdadeira. Ele iniciou, portanto, suas crônicas sobre os reinados no Peru com o domínio dos quatro
irmãos Ayar e suas quatro irmãs, enviados para encontrar Cuzco com o auxílio de um objeto de ouro.
Porém, ele registrou a versão pela qual o primeiro a ser escolhido como líder foi um irmão, cujo nome
era o mesmo do antepassado que trouxera o povo para os Andes, Pirua Manco (originando o nome de
Peru).
Foi ele quem, tendo chegado ao local, anunciou sua decisão de construir ali uma cidade. Veio
acompanhado por esposas e irmãs (ou esposas-irmãs); uma delas deu à luz um filho, que foi chamado
Manco Capac. Foi esse filho quem construiu em Cuzco o Templo ao Grande Deus, Viracocha. Sendo
assim, é dessa época o início da contagem das dinastias. Manco Capac foi aclamado como filho do
Sol e foi o primeiro de 16 soberanos. Nessa época eram veneradas outras divindades: uma delas era a
Mãe Terra; a outra uma divindade cujo nome significava Fogo, representada por uma pedra que fazia
profecias.
A ciência mais importante da época, escreveu Montesinos, era a astrologia (o estudo dos astros, a
nossa atual astronomia). A arte de escrever em folhas preparadas de bananeira (como na Índia), ou
em pedras, era conhecida. O quinto Capac “renovou o cálculo do tempo” e começou a marcar a
passagem do tempo dos reinos de seus ancestrais. Foi ele quem introduziu a contagem de mil anos
como um Grande Período, e os séculos e meios séculos, equivalentes ao jubileu bíblico. O Capac que
introduziu esse calendário e a cronologia, foi o Inti Capac Yupanqui, que completou o templo e
introduziu a veneração ao grande deus Illa Tict Viracocha, cujo nome significa “Iniciador
Iluminado, Criador das Águas“.No reino do décimo-segundo Capac, chegaram a Cuzco as
notícias do desembarque na costa de “alguns homens de
grande estatura… gigantes que estavam colonizando a
costa” e que, possuindo ferramentas de metal, estavam
despojando a terra. Depois de algum tempo eles começaram
a subir as montanhas; felizmente, provocaram a ira do
Grande Deus que os destruiu com o fogo do céu. Livre dos
perigos, o povo esqueceu os mandamentos e os ritos da
adoração. “As leis e costumes bons” foram abandonados, o
que não passou desapercebido pelo Criador. Como castigo,
ele escondeu o sol da terra: “não houve aurora (dia) por vinte
horas“. Um grande clamor elevou-se do povo, que se
apressou em oferecer preces e sacrifícios nos templos, até
(depois de vinte horas) o sol reaparecer. Logo a seguir, o rei
reintroduziu os ritos de veneração e as leis de conduta.
O décimo-quarto Capac no trono de Cuzco fundou uma
escola para o estudo da astronomia e astrologia, objetivando
a determinação dos equinócios e solstícios. Montesinos
calculou que o quinto ano de seu reinado foi o 25º século
depois do marco zero, ou o início, considerado como o
Dilúvio. Era também o segundo milênio desde que a dinastia se iniciara em Cuzco; em celebração, o
rei ganhou um novo título,Pachacuti (“Reformador”). Seus sucessores também promoveram o estudo
da astronomia; um deles apresentou um ano contendo um dia extra a cada quatro anos e um ano extra
a cada quatrocentos.
No reinado do 58º. monarca, “quando o Quarto Sol se completou,” a contagem era 2.900 anos depois
do Dilúvio. Montesinos calculou ser o ano em que nasceu Jesus Cristo.
Aquele primeiro império de Cuzco, iniciado pelos Filhos do Sol e continuado por reis-sacerdotes,
chegou a um final amargo no reinado do 62º rei. Na sua época, ocorreram “prodígios e mau agouro”. A
Terra estremeceu com terremotos intermináveis, os céus se encheram de cometas e escutaram-se
profecias do final dos tempos. As tribos e as pessoas começaram a vagar sem destino, guerreando
com seus vizinhos. Os invasores vieram da costa, atravessando os Andes. Grandes batalhas
ocorreram; numa delas o rei foi atravessado por uma flecha e seu exército fugiu em pânico; apenas
quinhentos guerreiros sobreviveram às batalhas. “Assim o reinado da monarquia peruana foi perdido e
destruído”, escreveu Montesinos, “e o conhecimento das letras foi perdido”.
Os poucos remanescentes abandonaram Cuzco, deixando apenas um punhado de fiéis sacerdotes
para tomar conta do templo. Levaram com eles o filho do rei morto, um menino ainda, e refugiaram-se
num local seguro e elevado nas montanhas chamado Tampu-Tocco. Foi o lugar onde, de uma caverna,
o primeiro casal semidivino saiu para fundar os reinos andinos. Quando o menino cresceu, foi
proclamado o primeiro monarca da dinastia de Tampu-Tocco, que durou quase mil anos, desde o início
do século 2 até o século 11 d.C.
Durante tantos séculos de exílio, a sabedoria se esvaiu e a escrita foi esquecida. No reinado do 78º.
monarca, com a marca de 3.500 anos desde o Início, uma certa pessoa começou a reviver a arte da
escrita. Foi nessa época que o rei recebeu um aviso dos sacerdotes em relação à invenção das
letras. Era a sabedoria da escrita, explicava a mensagem, a causa das pestilências e maldições que
haviam terminado a dinastia de Cuzco. O desejo do deus era que “ninguém usasse as letras, nem
ressuscitasse seu uso, pois de seu emprego muitos males viriam (outra vez)”. Portanto, o rei ordenou
“por lei, sob pena de morte, que ninguém deveria andar com quilcas, pergaminhos de folha de
bananeira, onde costumavam escrever, nem deveria usar as letras”. Ao invés disso ele iniciou o uso
de quipos, as fitas de cordas coloridas, que serviam para propósitos cronológicos.





No reinado do 90º. monarca, o quarto milênio desde o Ponto Zero completou-se. A essa altura a
monarquia em Tampu-Tocco era fraca e ineficaz. As tribos ainda leais estavam sujeitas às invasões
dos vizinhos. Os chefes tribais deixavam de pagar tributos à autoridade central. Os costumes foram
sendo corrompidos e as abominações proliferaram. Em tais circunstâncias, uma princesa descendente
direta dos Filhos do Sol, uma certa Mama Ci-boca, anunciou que seu filho menor, tão belo que seus
admiradores o chamavam de inca, estava destinado a reinstalar o reinado na antiga capital, Cuzco. De
uma forma milagrosa ele desapareceu e retornou em trajes dourados, afirmando que o Grande Sol o
havia levado para ensinar sua sabedoria secreta e lhe dissera para liderar o povo de volta a Cuzco.
Seu nome era Rocca. Ele foi o primeiro da dinastia inca, que teve um final inglório pelas armas dos
espanhóis.
Tentando ordenar esses eventos, Montesinos afirma, de tempos em tempos, que um período chamado
“Sol” passara, ou iniciara-se. Conquanto não fique claro qual o período de tempo considerado (em
anos), ele parecia ter em mente as lendas andinas de vários “Sóis” no passado.
Embora os estudiosos sustentem — hoje em dia cada vez menos — que não existiu nenhum contato
entre as civilizações centro-americanas e as sul-americanas, as últimas apresentam as mesmas
noções dos astecas e maias sobre os cinco Sóis. Na verdade, todas as civilizações do Velho Mundo
possuem lembranças de eras passadas, de eras quando os deuses reinavam sozinhos, seguidos pelos
semideuses e heróis, depois pelo reino dos mortais. Um texto sumério chamado Listas do Rei
assinala uma linhagem de senhores divinos, seguidos por semideuses, que reinaram durante um total
de 432.000 anos, antes do Dilúvio, e também fala de reis que governaram depois, através de tempos
agora considerados históricos, cujos dados foram verificados e considerados precisos.
A lista de reis egípcios, assim como foi composta pelo pré-historiador Manetho, apresentava uma
dinastia de doze deuses, que começou cerca de 10.000 anos antes do Dilúvio. Foi seguida de deuses
e semideuses até cerca de 3.100 a.C., quando os faraós ascenderam ao trono do Egito. Também
esses dados, até onde puderam ser verificados, mostraram-se corretos. Montesinos encontrou essas
ideias nas histórias peruanas, confirmando os relatos de outros cronistas, de que os incas acreditavam
estar vivendo a Quinta Era, ou Quinto Sol. A Primeira Era foi a de Viracocha, dos deuses brancos e
barbados. A Segunda Era foi a dos gigantes; alguns deles não eram amigáveis e houve conflitos entre
deuses e gigantes. A terceira foi a Era do Homem Primitivo, de seres humanos sem cultura. A Quarta
Era foi a dos heróis, homens que eram semideuses. Só, então, começou a Quinta Era, a dos reis
humanos, de quem os incas eram os últimos da linhagem.
Montesinos também comparou a cronologia andina com a européia, relacionando os fatos a um
determinado Ponto Zero (ele escolheu o Dilúvio) e — mais claramente — ao nascimento de Cristo. As
duas sequências cronológicas, escreveu ele, coincidiram no reinado do 58º. soberano: o 29º. século
desde o Ponto Zero foi o “primeiro ano de Jesus Cristo”. As monarquias peruanas começaram 500
anos depois do “Ponto Zero”, por exemplo, em 2.400 a.C.
O problema dos especialistas com a história e a cronologia propostas por Montesinos não é falta de
clareza, mas sua conclusão de que a civilização e as dinastias em Cuzco começaram quase 3.500
anos antes dos incas. Tal civilização, de acordo com a informação recolhida por Montesinos, e aquelas
nas quais ele trabalhou, dominava a escrita, tinha conhecimentos de astronomia, entre outras ciências,
e utilizava um calendário longo o suficiente para promover sua reforma periódica. Tudo isso (e muito
mais) era conhecido da civilização suméria, que floresceu por volta de 3.800 a.C, e pela egípcia, que
se seguiu, aproximadamente a 3.100 a.C. Outro ramo da civilização suméria, a do vale do rio Indus,
viveu por volta de 2.900 a.C.
Por que não seria possível que esse triplo desenvolvimento ocorresse uma quarta vez, nos Andes?
Impossível seria se não houvesse contato entre o Velho e o Novo Mundo. Possível, se os depositários
da sabedoria, os deuses, fossem os mesmos, presentes em toda a Terra. Nossa conclusão pode
parecer absurda à primeira vista, porém felizmente pode ser comprovada. O primeiro teste sobre a
veracidade dos eventos e cronologias compilados por Montesinos já aconteceu.
Um elemento-chave na narrativa de Montesinos é a existência de um império antigo, de uma linhagem
de reis em Cuzco que foram forçados a abandonar sua capital e procurar refúgio num local chamado
Tampu-Tocco. O intervalo demorou uns mil anos; finalmente, um jovem nobre foi escolhido para levar o
povo de volta para Cuzco e estabelecer lá uma dinastia inca. Existiria um local chamado Tampu-Tocco,
identificável através da descrição dos acidentes, feita por Montesinos? A pergunta intrigou a muitos.
Em 1911, procurando cidades incas perdidas, Hiram Bingham, da Universidade de Yale, encontrou
este local: Machu Pichu.
Bingham não estava procurando pela localização de Tampu-Tocco quando partiu em sua primeira
expedição. Porém, depois de voltar outras vezes e realizar escavações por mais de duas décadas
concluiu que Machu Pichu foi a capital interior do Velho Império . Suas descrições do local, encontram se
nos livros Machu Picchu, a Citadel of the incas (“Machu-Pichu, a Cidadela dos incas) e The Lost
City of the Incas (“A Cidade Perdida dos Incas”)
O principal motivo para se acreditar que Machu Pichu seja a lendária Tampu-Toccoé a pista das três
janelas. Montesinos escreveu que “no local de seu nascimento, o inca Rocca ordenou que fossem
executados trabalhos, consistindo de uma parede de alvenaria com três janelas, que são o emblema
da casa de seus pais, de quem ele descende”. O nome do lugar para o qual a casa real se mudara, ao
sair de Cuzco, significa “Refúgio das Três Janelas”.
Nada tem de surpreendente o lugar ficar conhecido por suas janelas, uma vez que nenhuma casa em
Cuzco, desde a mais humilde até a mais luxuosa, apresentava janelas. Mas sim o fato de o local ficar
conhecido por um número específico de janelas — três — que só poderia ser resultado de sua
singularidade, antiguidade, ou santidade. O que parece verdadeiro com relação a Tampu-Tocco, de
acordo com a lenda, é a estrutura com três janelas ter desempenhado um papel importante no
surgimento das tribos e no início do antigo império do Peru. Essa estrutura específica se transformara
no “emblema da casa de seus pais, de quem ele [Inca Rocca] descendia”.
A lenda dos irmãos Ayar descrevia o local e falava de seu papel na história. Como afirmou Pedro
Sarmiento de Gamboa (Historia General Llamada Yndica), também mencionado por ou tros cronistas
anteriores, os quatro irmãos Ayar e suas quatro irmãs, tendo sido criados pelo deus Viracocha, no lago
Titicaca , chegaram, ou foram colocados pelo deus, em Tampu-Tocco, onde “apareceram à janela por
ordem de Tici-Viracocha, declarando que Viracocha os criara para serem chefes”.
O mais velho dos irmãos, Manco Capac, carregava com ele um emblema sagrado ostentando a
imagem do falcão, e também trazia o cetro de ouro que o deus lhe entregara para localizar o local
correto para a futura capital, Cuzco. A vida dos quatro casais começou pacificamente. Contudo, logo
sobrevieram crises de ciúmes. Sob o pretexto de que certos tesouros haviam sido deixados para
trás, numa caverna emTampu-Tocco, o segundo irmão, Ayar Cachi, foi enviado de volta para apanhálos.
Isso era apenas um pretexto dos outros irmãos para aprisioná-lo na caverna, onde ele foi
transformado em pedra.
Segundo essas histórias, Tampu-Tocco existira em tempos muito antigos. “O mito dos Ayar”, escreveu
H. B. Alexander em Latin American Mythology (“Mitologia Latino-Americana”) “remonta à Idade
Megalítica e às cosmogonias associadas ao Titicaca”. Quando os exilados deixaram Cuzco, foram para
um lugar que já existia, um lugar onde uma estrutura com três janelas desempenhara seu papel em
acontecimentos anteriores. É com essa compreensão que agora podemos visitar Machu Pichu, pois
uma construção com uma parede com três janelas de fato foi encontrada lá e em nenhum outro lugar
do Peru.
“Machu Pichu, ou Grande Pichu, é o nome quechua de um pico que se eleva a mais de 3.000 metros
sobre o nível do mar e a 1.200 metros sobre as corredeiras do rio Urubamba, perto da ponte de San
Miguel, a dois dias de viagem de Cuzco”, es creveu Bingham. “A noroeste de Machu Pichu eleva-se
outro belo pico cercado por magníficos precipícios, chamado Huayna Pichu, ou Pichu Menor. Sobre o
estreito espaço entre os dois picos encontram-se as ruínas de uma cidade inca, cujo nome perdeu-se
nas sombras do passado. E possível que representem duas cidades antigas, Tampu-Tocco, o local de
nascimento do primeiro inca, e Vilcabamba Viejo.”
Hoje em dia a viagem de Cuzco a Machu Pichu, uma distância de 120 quilômetros em linha reta, não
leva os dois dias descritos por Bingham. Um trem subindo as montanhas, passando por túneis e
pontes, e acompanhando o trajeto do rio Urubamba, leva apenas quatro horas até chegar ao destino.
Mais meia hora de ônibus, a partir da estação de trem, e chega-se à cidade. A vista estonteante é
exatamente como Bingham descreveu. No espaço em forma de sela entre os dois picos, casas,
palácios e templos se erguem — todos sem telhados atualmente — cercados de terraços que
acompanham a encosta da montanha, prontos para cultivo. O pico de Huayna Pichu eleva-se a
noroeste como uma sentinela (fig. 72). Além, e ao redor, enxergam-se picos a perder de vista. Para
baixo, o rio Urubamba forma um desfiladeiro em forma de ferradura ao redor da base do pico. Suas
águas revoltas cortam caminho através do verde-esmeralda da selva.
Como convém a uma cidade que, acreditamos, serviu no início de modelo para Cuzco e depois imitoua,
Machu Pichu também se compunha de doze terraços, ou grupos de estruturas. O grupo para uso
real e religioso encontrava-se no oeste; os grupos para uso residencial e de atividades (ocupado na
maior parte pelas Virgens e pela hierarquia dos clãs) localizava-se a leste, separado por uma série de
terraços largos. O povo que cultivava os terraços elevados vivia fora da cidade e nos campos
adjacentes (muitos vilarejos foram encontrados desde a descoberta inicial, por Bingham).




Alguns estilos de construção, como em Cuzco e outros sítios arqueológicos, sugerem fases diferentes
de ocupação. As casas para habitação são construídas em sua maioria de pedras natu rais, unidas com
argamassa. As residências reais são construídas de cantarias em camadas, tão bem trabalhadas
quanto as de Cuz co. Ali existem estruturas onde o trabalho de artesanato é tão perfeito que não possui
rival. Existem ainda os blocos poligonais megalíticos. Em muitos casos, os restos do Antigo Império e
da Era Megalítica permaneceram como eram; em outros, a constru ção sobre eles é óbvia.
Enquanto os terraços mais a leste ocupavam cada centímetro quadrado da montanha, e se estendiam
desde a parede da cidade, ao sul e ao norte tanto quanto o terreno permitia, e para o leste nos
terraços de agricultura e funerários, o grupo oeste de terraços, que também se iniciava nas muralhas,
estendia-se para o norte apenas até a borda da Praça Sagrada — como se uma linha invisível
marcasse o solo sagrado e não pudesse ser transpassada.
Além dessa demarcação não vista, e em frente à grande praça do terraço para o leste, ficam os restos
do que Bingham identificou como sendo a Praça Sagrada, principalmente, “porque nos dois lados
ficam os maiores templos”, um dos quais com as famosas três janelas. Ali, na construção que Bingham
denominou de Templo das Três Janelas, na Praça Sagrada, e no Templo Principal, os ciclópicos blocos
poligonais começaram a ser usados. A forma como foram cortados, trabalhados e encaixados sem
argamassa os coloca no mesmo tipo de construção que os blocos e estruturas megalíticas de
Sacsayhuaman; ultrapassando a poligonalidade de qualquer outro encontrado em Cuzco, um dos
blocos possui 32 ângulos.
O Templo das Três Janelas localiza-se na parte oriental da Praça Sagrada; os grandes blocos da
parede leste erguem-se bem acima do nível do terraço a oeste, permitindo uma vista para o nascente
através das três janelas. Trapezóides na forma, os peitoris foram cortados de pedras enormes, que formam
a própria parede. Como em Sacsayhuaman e Cuzco, esse corte, o formato e o ângulo dos
grandes blocos de granito dão a impressão de terem sido trabalhados como argila macia e moldável.
Tam bém aqui, os blocos de granito branco foram transportados de grandes distâncias, através de
terreno irregular, rios profundos, desfiladeiros e montanhas.
O Templo das Três Janelas só possui três paredes, sendo o lado oeste completamente aberto. Lá, ele
fica em frente a um pilar de pedra, com cerca de dois metros de altura. Para Birgham, ele deveria
sustentar um teto, o qual (ele admite) teria sido “um dispositivo não encontrado em nenhuma outra
construção”. Acreditamos que o pilar, em conjunto com as três janelas, servia para a observação dos
astros .
Em frente à Praça Sagrada ao norte, encontra-se a estrutura que Bingham chamou de Templo
Principal. Esse conjunto também apresenta apenas três paredes, com quase quatro metros de altura.
Elas se apoiam, ou são construídas, em blocos enormes. A parede oeste, por exemplo, é construída de
apenas dois blocos gigantes de pedra, mantidos juntos por uma pedra em forma de T. Um grande
monólito, medindo 3 x 1,5 x 1 metro está apoiado na parede norte central, na qual sete nichos acima
imitam (mas não são) janelas trapezóides.
Degraus conduzem da extremidade norte da Praça Sagrada até uma colina, cujo topo foi achatado
para servir como plata forma para a Intihuatana , uma pedra cortada com toda a precisão, destinada à
observação do Sol e acompanhamento de seus mo vimentos. Seu nome significava “A Que Prende o
Sol”. Presume-se que era utilizada para determinar os solstícios, quan do o Sol se afasta mais para o
norte e para o sul, e sinalizar a época dos ritos para “aprisionar o Sol”. A intenção era fazer com que
ele voltasse sempre, em vez de ir embora e desaparecer, deixando a Terra imersa numa
escuridão como já ocorrera antes, segundo as tradições .
ocalizado no lado oposto da parte ocidental, real e sagrada de Machu Pichu, ao sul da Clausura Real,
eleva-se outro mag nífico (e incomum) edifício da cidade. Chamado de Torreón por sua forma
semicircular, sua construção em cantarias — cortadas, trabalhadas e polidas — é de uma perfeição
inigualada, só riva lizada pelas cantarias da parede que envolve o Santo dos Santos em Cuzco.
A essa parede semicircular, onde se chega por meio de sete degraus, cria seu próprio recinto sagrado,
ao centro do qual existe uma rocha cortada, trabalhada e esculpida em linhas de baixo relevo.
Bingham encontrou evidências de que a pedra e as paredes foram submetidas a incêndios periódicos
e concluiu que o recinto seria usado para sacrifícios e outros rituais ligados à veneração da
pedra. Lembra a rocha sagrada que forma o interior do Templo do Monte, em Jerusalém, e também a
Qua’abah, a pedra negra escondida no interior da Mesquita Sagrada, em Meca.
A veneração à rocha de Machu Pichu não está ligada ao seu topo protuberante, mas ao que se
encontra na sua parte inferior. Trata-se de um enorme rochedo, no interior do qual há uma caverna,
alargada e esculpida artificialmente em formas geométricas, que lembram (mas não são) escadas,
assentos, bancos e postes. Além disso, o interior foi decorado com cantarias de granito branco, da
mais pura cor e granulação.
Nichos e saliências de pedra aumentam a complexidade interior. Bingham presumiu que a caverna
original fora alargada e preparada para receber múmias, trazidas ali porque o local era sagrado. Mas,
para começar, por que era sagrado e suficientemente importante para receber os reis mortos? A
pergunta nos leva de volta à lenda dos irmãos Ayar, um dos quais fora aprisionado numa caverna no
Refúgio das Três Janelas. Se o Templo das Três Janelas fosse o mesmo da lenda, e a caverna
também, então elas confirmariam que Machu Picchu era a legendária Tampu-Tocco.
Sarmiento, um conquistador espanhol que era também cronista, refere-se em sua História dos incas a
uma narrativa local sobre o 9º. inca (por volta de 1340 d.C.): “sendo curioso sobre as coisas da
Antiguidade e querendo perpetuar seu nome, foi pessoalmente à montanha de Topu-Tocco … e lá
entrou na caverna que se tem por certo ser o local onde Manco Capac e seus irmãos chegaram
quando viajaram para Cuzco pela primeira vez [...] depois de fazer uma inspeção completa, ele
venerou o local com ritos e sacrifícios e colocou portas de ouro na janela de Capac Tocco, ordenando
que dali em diante a localidade fosse venerada por todos, tornando-se um local de oração para a
realização de sacrifícios e profecias. Tendo feito isto, retornou a Cuzco.”
O personagem desse relato, o 9º. inca, foi chamado de Titu Manco Capac. Ele recebeu o título
adicional de Pachacutec (“Reformador”) porque, depois do seu retorno de Tampu-Tocco, reformou o
calendário. Assim, como a existência em Machu Picchu do Templo das Três Janelas, o Intihuatana, a
Pedra Sagrada, o Torreão e sua caverna confirmam a existência de Tampu-Tocco, a história dos
irmãos Ayar, os reis pré-incaicos durante o Antigo Império, o conhecimento de astronomia e do
calendário que são elementos-chave na história e cronologia compiladas por Montesinos.
A veracidade dos dados de Montesinos poderia ter sido realçada se ele tivesse razão com relação à
existência da escrita nos tempos do antigo império. Descobrimos que Cieza de León tinha o mesmo
ponto de vista, afirmando que “na época que precedeu os imperadores incas existiu a escrita no Peru
[...] em folhas, peles, tecidos e nas pedras”. Muitos estudiosos sul-americanos agora se juntam aos
cronistas antigos, acreditando que os nativos daquelas terras tinham uma ou mais formas de escrita na
Antiguidade.
Numerosos estudos registram petróglifos (“escritos em pedra”) encontrados nessas terras, que
mostram, em vários graus, uma escrita pictográfica ou glífica. Rafael Larco Hoyle, por exemplo (La
Escritura Peruana Pre-Incana – “A Escrita Peruana Pré-Incaica”), baseado em dramatizações, sugere
que os habitantes do litoral, até Paracas, possuíam escrita glífica semelhante à dos maias. Arthur
Posnansky, o principal explorador de Tiahuanaco, produziu volumosos estudos, demonstrando que os
sinais esculpidos nos monumentos formavam uma escrita pictográfica-ideográfica — etapa anterior à
escrita fonética. E a descoberta da Pedra de Calango, agora em exposição no Museu de Lima, sugere
uma combinação de escrita pictográfica com fonética, talvez até alfabética.
Um dos primeiros grandes exploradores da América do Sul, Alexander von Humboldt, abordou o
assunto em sua obra principal “Vues dês Cordilléres et Monumens dês Peuples Indigenes de
l’Amerique“ (“Vista das Cordilheiras e Monumentos das Populações Indígenas da América”), publicada
em 1824. “Recentemente tem se levantado dúvidas sobre se os peruanos, além de quippus, teriam
tido conhecimento de uma escrita de sinais. Uma passagem em La Origin de los índios dei Nuevo
Mundo ["A Origem dos índios do Novo Mundo", Valência, 1610], página 91, não deixa dúvidas a esse
respeito.”
Outro cronista, Padre Garcia, depois de falar dos hieróglifos mexicanos, afirma: “no início da Conquista,
os índios do Peru confessavam-se, pintando caracteres que listavam os dez mandamentos e
as transgressões cometidas contra eles”. E possível concluir, portanto, que os peruanos possuíam o
uso de uma escrita pictórica, mas seus símbolos eram menos refinados do que os hieróglifos
mexicanos, pois, geralmente, o povo fazia uso do quippus.
Escrevendo em 1855, Ribero e von Tschudi relatam outras descobertas e concluem que, de fato,
existia outro método de escrita no Peru, além dos quipos. Falando de suas várias viagens, von Tschudi
em Reisen durch Südamerika descreve sua excitação ao observar a fotografia de um pergaminho com
sinais hieroglíficos. Ele encontrou o pergaminho original no museu de La Paz, na Bolívia, e fez uma
cópia dos sinais pintados sobre ele. “Esses símbolos tiveram sobre mim um efeito surpreendente. Eu
fiquei em frente a esse pergaminho por horas, tentando decifrar ‘o labirinto’ dessa escrita”. Ele
presumiu que a escrita começava pela esquerda, continuava na linha seguinte pela direita, para voltar,
na terceira linha, pela esquerda outra vez, e assim por diante, como uma cobra coleando. Concluiu,
também, que foi escrito na época em que o Sol era adorado. Mas não foi muito além disso.
Traçou a origem da inscrição até as margens do lago Titicaca. O padre da Igreja Missionária da
localidade de Copacabana, às margens do lago, confirmou que tais escritos eram conhecidos na área,
mas atribuídos a um período posterior à Conquista. A explicação não parecia satisfatória, pois os
nativos não possuíam escrita própria, adotando o latim dos espanhóis para se expressar. Mesmo que
essa escrita hieroglífica tivesse sido usada depois da Conquista, segundo Jorge Cornejo Bouroncle(La
Idolatria en el Antiguo Peru – “A Idolatria no Peru Antigo”), “sua origem deve ter sido muito mais
remota”.
Arthur Posnansky (Guia General Illustrada de Tiahuanacu – “Guia Geral Ilustrado de Tiahuanaco”)
encontrou inscrições adicionais nas ilhas sagradas do lago Titicaca. Na sua opinião, a escrita lembra
algumas inscrições enigmáticas encontradas na ilha de Páscoa — uma conclusão com a qual outros
estudiosos concordam — parecidas, por sua vez, com à escrita dos hititas. Um aspecto comum a
todas elas (incluindo as inscrições no lago Titicaca) é seu sistema tipo “boi arando”: a escrita na
primeira linha começa à esquerda e termina no lado direito; na segunda linha lê-se da direita para a
esquerda, e assim por diante.
Sem entrar no mérito sobre como aquela escrita parecida com a dos hititas chegou ao lago Titicaca, a
existência de uma ou mais formas de escrita no Peru antigo foi confirmada. Por esse lado, também, as
informações de Montesinos estavam certas. A despeito de tudo isso, se o leitor ainda acha difícil
aceitar a conclusão inevitável de que realmente existiu uma civilização semelhante a do Velho Mundo
nos Andes, por volta de 2400 a.C, existem outras provas.
Uma pista válida, e completamente ignorada pelos estudiosos, é a repetição em muitas histórias de
que ocorreu nos Andes uma escuridão assustadora em tempos remotos. Ninguém se perguntou se era
a mesma escuridão — o não nascer do sol em sua hora costumeira do dia — mencionada nas lendas
mexicanas sobre a história de Teotihuacan e suas pirâmides. Se realmente ocorreu tal fenómeno — o
sol não apareceu e a noite foi interminável — ele teria sido observado pelas Américas.
As lembranças mexicanas e as andinas parecem corroborar umas com as outras nesse ponto, assim
confirmando as próprias versões, como duas testemunhas distintas do mesmo evento. Porém, se isso
ainda não é suficientemente convincente, podemos juntar as provas da Bíblia, tendo como testemunha
o próprio Josué.
Segundo Montesinos e outros cronistas, um acontecimento insólito ocorreu durante o reinado de Titu
Yupanqui Pachacuti II, o 15º. monarca do Antigo Império. Foi no terceiro ano de seu reinado, quando
“os bons costumes foram esquecidos e as pessoas se entregaram a todos os tipos de vícios”, houve
um dia em que “não houve aurora por vinte horas”. Em outras palavras, a noite não terminou no
horário de sempre e o nascer-do-sol foi adiado durante vinte horas. Depois de grande comoção,
confissões de pecados, sacrifícios e orações, o sol finalmente apareceu.
Esse fenômeno não pode ter sido um eclipse, porque nenhum eclipse dura tanto tempo. Além disso, os
peruanos tinham conhecimento de tais eventos periódicos. A história não diz que o sol desapareceu.
Apenas afirma que “não houve aurora” por vinte horas. Foi como se o sol, onde quer que tenha se
escondido, tivesse parado.
Se a lembrança andina for verdadeira, então, em algum outro lugar — do lado oposto do mundo, onde
deveria ser noite — o DIA teria durado duas vezes mais,ou seja, teria se estendido por vinte horas a
mais.
Incrivelmente, um acontecimento desse tipo está registrado. E não há lugar melhor do que a própria
Bíblia para falar dele. Foram os hebreus, sob a liderança de Josué, quando finalmente atravessaram o
rio Jordão para a sua Terra Prometida e tomaram com êxito as cidades de Jericó e Ai, as testemunhas
do fenômeno. Foi então que os reis amoritas formaram uma aliança para opor forças combinadas aos
hebreus. Uma grande batalha foi travada no vale de Ajalon, próximo à cidade de Gibeon. Começou
com um ataque noturno israelita, que provocou a fuga dos cananitas. Ao alvorecer, quando as forças
cananitas se reagruparam, perto de Beth-Horon, o Bom Senhor “atirou grandes pedras do céu contra
eles [...] e eles morreram; havia mais mortos pela chuva de pedras do que aqueles abatidos por
espadas israelitas.” E então Josué falou com Yaweh,
“No primeiro dia em que Yaweh entregou os amoritas aos Filhos de Israel,
dizendo: Ao aparecerem os israelitas, que o Sol se detenha em Gibeon E a
Lua no vale de Ajalon. E o Sol se deteve, e a Lua parou, até que as pessoas se
tivessem vingado dos inimigos”.
Na verdade, está tudo escrito também no Livro de Jasher:
“O Sol parou no meio dos céus e não se apressou a descer durante um dia
inteiro”.
Os “peritos e eruditos” lutaram por muitas gerações com essa história do capítulo 10 do Livro de
Josué. Alguns descartam a passagem, considerando-a como ficção; outros vêem ali o reflexo de um
mito; outros, ainda, tentam explicar o fato narrado como um prolongado eclipse do sol. Mas não
existem tais eclipses desconhecidos. E a história não fala do desaparecimento do sol. Pelo contrário,
relata um evento durante o qual o sol continuou a ser visto, pendurado nos céus por “cerca de um dia
inteiro” — vamos dizer, cerca de vinte horas?
O incidente, cuja singularidade é reconhecida na Bíblia (“Não existiu nenhum dia como esse, antes ou
depois.”), ocorreu do outro lado da Terra, em relação aos Andes situado na América do Sul,
descrevendo um fenômeno oposto mas complementar astronomicamente ao que ocorrera no Peru
(América do Sul). Em Canaã (oriente Médio) o sol não se pôs por cerca de vinte horas; nos Andes o
sol não se levantou pelo mesmo período de tempo.
“O fato de as duas histórias descreverem o mesmo acontecimento
(astronômico), e se originarem em lugares diferentes (e posições geográficas
contrárias) da Terra, não constituiria uma prova de sua veracidade”?
Que acontecimento foi esse, ainda permanece um mistério. A única pista bíblica foi a menção às
pedras caindo dos céus. Sabemos que as histórias não descrevem uma parada do sol (e da lua), e sim
uma perturbação da rotação terrestre em seu eixo. Uma causa possível seria a passagem de um
cometa (ou outro corpo celeste) muito próximo à Terra, desintegrando-se no processo. Desde que a
órbita de alguns cometas ocorra no sentido horário em relação ao sol, fica em sentido oposto ao da
Terra e dos demais planetas. Tal força cinética poderia ter agido por algum tempo na rotação ter restre,
diminuindo-a ou até mesmo parando-a.
Qualquer que tenha sido a causa de tal fenômeno, o que nos interessa aqui é o tempo em que ele
aconteceu. A data geralmente aceita para o Êxodo foi o século XIII a.C. (cerca de 1230 a.C). Os
estudiosos que tentaram recuá-la em cerca de dois séculos são minoria. Ainda assim, concluímos em
outros livros de nossa autoria (veja AsGuerras entre Deuses e Homens) que uma data de 1.433 a.C.
se encaixaria no acontecimento, como as narrativas dos patriarcas bíblicos, bem conhecidas, e nas
cronologias da Mesopotâmia e do Egito.
Após a publicação de nossas conclusões (em 1985), dois eminentes pesquisadores e arqueólogos
bíblicos, John J. Bimson e David Livingston, chegaram à conclusão depois de um estudo
exaustivo (Biblical Archaeology Review, setembro/outubro de 1987), que o Êxodo aconteceu ao redor
de 1460 a.C. Além dos próprios achados arqueológicos, uma análise de períodos da Idade do Bronze
no longínquo Oriente Médio, dados bíblicos e processos de cálculo empregados foram os mesmos
utilizados dois anos antes. (Também explicamos naquela oportunidade porque escolhêramos
reconciliar duas linhas de dados bíblicos ao datar o Êxodo em 1433 em vez de 1460 a.C.).
Desde que os hebreus começaram a vagar nos desertos da Península do Sinai por quarenta anos, a
entrada em Canaã ocorreu em 1393 a.C.; portanto, o fenômeno observado por Josué aconteceu
depois disso.




Infelizmente, o estado em que os registros de Montesinos chegaram aos estudiosos modernos deixa
muitas falhas concernentes a longos períodos de cada monarca. A resposta tem de ser buscada por
outro caminho. O evento, alerta Montesinos, ocorreu no terceiro ano do reinado de Titu Yupanqui
Pachacuti II. Para localizar com precisão essa data, teremos de calcular partindo dos dois lados.
Sabemos que os primeiros 1.000 anos desde o Ponto Zero foram completados durante o reinado do
quarto monarca, em 1.900 a.C.; que o 32º. monarca reinou passados 2.070 anos desde o Ponto Zero,
em 830 a.C.
Quando reinou o 15º. monarca? Os dados disponíveis sugerem que os nove reis que separam os
reinados mencionados, duraram cerca de 500 anos, colocando Titu Yupanqui Pachacuti II em cerca de
1.400 a.C. Calculando para trás e partindo do 32º. rei inca (830 a.C.), chegamos a 564 como o número
de anos dos nove soberanos, o que coloca o reinado de Titu Yapanqui Pachacuti II em 1394 a.C.
De qualquer forma, chegamos a uma data para o fenômeno solar nos Andes que coincide com os
dados bíblicos e a datação dos acontecimentos em Teotihuacan.
A conclusão chocante é clara:
O DIA EM QUE O SOL PAROU EM CANAÃ, NO ORIENTE MÉDIO FOI A NOITE SEM AURORA NAS
AMÉRICAS.
A ocorrência, assim verificada, fornece uma prova irrefutável da veracidade das lembranças andinas
sobre um Antigo Império, que se iniciou quando os “deuses”entregaram ao homem o cetro de ouro, em
Copacabana, às margens do lagoTiticaca.
FIM